Esse blog destina-se ao registro de acontecimentos da família Caffé além de coisas do cotidiano, diversão, arte, reflexão, passeios, música e tudo que chamar a nossa atenção.



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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012


LEMBRANÇAS QUE NÃO SE ACABAM


Uma homenagem às nossas avós Yolande (Landinha) e Maria Madalena Caffé (Mariquinhas), dos filhos de Edson e Laurília. 

Lembramos com saudades das nossas idas à casa de vovó Landinha. Mainha, com uma das menores de nós nos braços, e aquela escadinha de meninas ao seu redor.

Vovó Landinha, sentada na sua cadeira de balanço, que mais parecia um trono de rainha, ficava num lugar privilegiado, entre a sala e o alpendre e dalí enxergava todos que entravam e saíam da sua casa.
Recebia filhos e netos para uma conversa informal de domingo e, com seu abraço amigo e seu colo farto, acolhia a todos com muito carinho e atenção.

Em seu balançar despreocupado, olhava pela janela escancarada e pela porta entreaberta, o passear dos amigos e parentes que sempre lhe saudavam e traziam notícias do seu Juazeiro tão querido. Nas mãos sempre trazia mais um trabalho de crochê, cujas cores e beleza sempre nos deixavam encantadas. 
 Muitas vezes ficava sentada na calçada com tia Bibi, em duas cadeiras "Diretor", de onde também podiam apreciar o movimento da rua.  

Nos dias de festa, a casa ficava super lotada por causa da quantidade de filhos, noras, genros e netos. Muitas vezes nos surpreendíamos com algum primo mais crescido e outros que passávamos a conhecer.

O seu aniversário era muito animado. Os balões juninos coloriam os olhos curiosos dos seus netos e despertava o interesse para as crendices e simpatias de São João. Os filhos e netos mais velhos, brincavam com espadas de fogo, na rua em frente a casa, o que nos deixava num misto de encantamento e medo. 

Uma família de pessoas felizes que, com muita imaginação contavam histórias cheias de risos que deixavam vovó Landinha com o coração palpitando de felicidade.

Ela viveu mais de cinquenta anos com meu avô Diógenes, em plena harmonia religiosa: ela era Cristã Batista e ele Católico. Aos domingos, meu avô a levava ao Culto e depois ia à Missa das nove, na Igreja Matriz N.S. das Grotas. Criaram seus filhos livres para seguirem a religião que escolhessem. 

Lembramos do seu semblante sempre calmo e sereno, apesar da algazarra e traquinagens que fazíamos.
No seu coração de mãe e avó cabia sempre um pouquinho de nós, que ela amava e respeitava. Cheia de risos e afagos dava-nos momentos de sonhos e de certezas, mostrando de maneira simples, o verdadeiro valor da família.

Lembro que, além das deliciosas guloseimas que nos servia, logo que a gente chegava lá ia retirar um papelzinho dentro de uma caixinha, como se fosse ler a sorte, onde estavam versículos da Bíblia.

Vovó Mariquinhas, com sua postura séria, requintada e com olhar enigmático, era o reflexo do compromisso assumido muito cedo, com a prematura morte de vovô Antonio.

Sentada no seu cantinho, com seus bordados coloridos, falava de tudo um pouco, inteligência que ultrapassava os limites do seu tempo. Vários amigos e parentes, vinham se aconselhar, ouvir opiniões, compartilhar acontecimentos. Foi muito querida e bem relacionada na cidade que escolheu para viver.

Mantinha-se sempre atualizada com os assuntos, especialmente da cidade de Juazeiro, e fazia questão de comentar com os amigos que a visitava. Admiradora das " modernidades", chegou a me dizer a Yara um dia: "como eu gostaria de ter nascido agora"....

No seu papel de avó, nos colocava para bordar pontos de cruz ou fazer trabalhos de crochê e exigia que ficasse tudo muito bem feito. Se ela achasse que não estava bom mandava desmanchar e começar tudo novamente, até acertar. A época era de mulheres prendadas e ela queria netas prontas e valorizadas para os padrões da sociedade.

Esbelta, elegante nos seus “tailleur” , quase sempre pretos ou cinza, ia todos os dias ao comércio, comprar aviamentos ou tecidos para os seus trabalhos pois costurava camisas e pijamas para a elite de Juazeiro. Ia de loja em loja cumprimentado a todos, dando uma prosinha ali e acolá. 

Bem perfumada e com os cabelos penteados em um coque, vovó Mariquinhas ia visitar tio Camerino, seu irmão, e fazia questão de saber as novidades do lugar.
Naquela casa grande que cabia todos os sonhos de criança, ela passava horas renovando as forças, com pessoas que muita amava, para voltar à sua rotina de leitura,costuras e bordados.

Em casa, tinha momentos de sentimentos contidos, de lembranças que se misturavam com as fotos reveladas em preto e branco, cores que muitas vezes, levaram-na para a solidão de si mesmas, mas, como não há dor que não se acabe, deixemos tocar as badaladas do relógio da sala despertando a certeza do dever cumprido.

O cheirinho gostoso que vinha das flores do seu jardim fazia da sua casa um lar aconchegante e pronto para receber todos com alegria e muitos doces. Ainda hoje, ao passar por algum jasmim, esse cheirinho nos transporta àquela casa, onde passamos tantos momentos de carinho e aprendizado.

Vovó Mariquinhas nos deixou uma herança religiosa maravilhosa, com a sua intensa participação em vários movimentos da igreja e como membro do Apostolado da Oração.

Duas avós tão diferentes em aparência física e modo de vida, mas que deixaram em nós lembranças ternas de amor, atenção, carinho e cuidado. Pessoas tão distintas e adoradas que contribuíram para a construção da nossa história, misturando simplicidade com autoridade e promovendo em nossas vidas, um elo de amor e respeito.

♥   ♥

6 comentários:

Yoland Caffé disse...

Relendo o texto, percebo que nossas lembranças estão bem afinadas. Adorei o resultado.

Regina disse...

Meu Deus que saudade dessas duas avós maravilhosas!!
Me emocionei com o texto!!
Bjs

Ivone Caffé disse...

Ave Maria! minha gente!! Me emocionei tanto ao ler e relembar esses momentos que chorei. Como elas eram diferentes e iguais ao mesmo tempo! Aprendi muito com elas e sinto saudades!Minhas queridas avós, Amo vocês prá sempre!

Cristina disse...

Pois é Lande. Depois de tantas recordações lançadas no texto, vindos das lembranças de cada um, ele conseguiu expressar ainda mais o que elas representaram na nossa vida. Obrigada por ter iniciado esse movimento.

Gina e Ivone, a gente se emociona ao ler o texto porque nos transporta a momentos que vivemos e que nos faziam tanto bem né?
Muito bom relembrar tudo isso...

Beijos para todas.

Rosângela disse...

Que recordação maravilhosa!! Nossas
avós foram especiais nas nossas vidas. Saudades!

Yara disse...

Belíssima homenagem a essas duas mulheres maravilhosas, que marcaram nossas vidas com seus exemplos, cuidados e ensinamentos.
Todos nós aprendemos muito com nossas queridas avós Landinha e Mariquinhas.
Como nos deixaram tantas saudades!!
Parabéns pelo lindo texto que nos inundou de lembranças, recordações de um tempo bom onde elas reinaram de formas distintas mas com o mesmo objetivo: Amor a Família.
Bjs
Yara