Esse blog destina-se ao registro de acontecimentos da família Caffé além de coisas do cotidiano, diversão, arte, reflexão, passeios, música e tudo que chamar a nossa atenção.



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terça-feira, 30 de abril de 2013




 As artistas "CAFFÉS"
Sempre adorei viver num mundo de sonhos. Se tivesse tido oportunidade e coragem, teria saído do meu interior para viver uma vida de artista na capital.

Na verdade, todos lá em casa tínhamos esta veia artística, e Yara, nossa irmã, foi na época para o Rio de Janeiro fazer um curso de teatro no Tablado, com Maria Clara Machado.

Adorávamos subir no palco! Colocávamos a nossa pesada mesa de jantar junto à janela que dava para a copa, abríamos a cortina feita com lençol e lá estávamos nós, cantando e representando. Até as malas “baús” que tínhamos em casa serviam de palco para a nossa arte.
Como não tínhamos tantas opções de diversão como hoje, a sala ficava cheia de amigos e vizinhos que vinham nos prestigiar.
Acho que minha mãe também gostava daquilo tudo e sempre nos ensinava algumas músicas do seu tempo que terminávamos dramatizando. Eis algumas delas:


O PINTOR


-Tum, Tum, Tum
-Quem bate na minha porta?
-Tum, Tum, Tum
-Quem bate na minha porta?
-Sou eu minha senhora o pintor da boca torta. (2x)

-Pode entrar seu pintor e se sentar (2x)
Se sente ao pé da porta que se acha um bom lugar (2x)

-Minha senhora diga a obra como quer (2x)
 Se quer de tinta preta forradinha de papé. (2x)

-Na escada eu quero uma planta, (2x)
Para alegrar esta nega de tamanca (2x)

-Na cozinha eu quero uma bananeira (2x)
Para alegrar esta negra cozinheira (2x)

-Minha senhora eu já vim torrar café (2x)
Xícara-xícara se quebrou, mas eu trago uma colher (2x)

-Sai-te daqui ó nega sem vergonha, (2x)
Se não tem café torrado trás um bule de congonha.

CRIADINHAS DE ADUBÁ

Criadinhas de adubá, somos nós de São Tomé
Quem quiser olhe prá cá, para ver se assim não é.

Eu sou quem varro a casa lá na casa da patroa
Saibam todos meus senhores que eu também sou coisa boa.
Eu sou quem lavo a roupa, lá na casa da patroa,
Vejam todos meus senhores que eu também sou coisa boa.
Eu sou quem arrumo a casa...
Eu sou quem espano a casa...
Eu sou quem passo a roupa.....

Na cozinha eu sou perita, sou perita cozinheira,
Na cozinha faço tudo, na cozinha sou ligeira.
Criadinhas de adubá.....

 Eu adorava me vestir de preto como se fosse uma viúva e cantar:

No tempo do meu marido (2x) Vestia meus paninhos de seda (2x)
Mas agora que não tenho marido (2x) Só visto meus paninhos pretos (2x)
Trá lá la´ danço direito, para viúva precisa jeito (2x)
No tempo do meu marido (2x) Comia os meus ensopados (2x)
Mas agora que eu não tenho marido (2x) Só como macaco torrado (2x)
Trá Lá lá....

Este final sempre arrancava risos da plateia.


Não podia faltar também: 
Três borboletinhas, sempre a bailar, três borboletinhas sempre a bailar.
Sou uma borboleta verde e amarela, por aonde passo pouso na janela;
Sou uma borboleta verde das campinas, por aonde passo brinco com as meninas;
Sou uma borboleta verde e cor de rosa, por aonde passo sou a mais formosa...

Esta daqui já no tempo das irmãs mais novas:
Bom dia cumadre cocota, eu não vim lhe avisitar, vim buscar minha galinha que tá presa em seu quintá.
Galinha eu não tenho, e pode arremeter, eu não tenho esse costume de ser como avocê...


O nosso teatro era também itinerante, pois saíamos ensaiando e fazendo apresentações nas casas dos vizinhos tendo toda criançada como elenco. Desfiles na casa de Tita, dramas na casa de Dalvânia. Ensaiamos muito na casa de Waldelice de seu Dedé pois ela adorava ver aquela algazarra, mas hoje vejo que era muita bagunça que fazíamos. Aproveitávamos também seu enorme quintal para promovermos lindos desfiles.

Lembro bem que lá em casa tínhamos uma empregada com o corpo bem bonito e ela desfilava de short. Homem não podia entrar nestes casos, mas uma vez Yara deixou que vários meninos subissem na escada de pedreiro que tínhamos lá em casa, para ver Geraldina desfilar. Ficamos furiosas.

Com o passar dos anos fizemos parte de vários eventos culturais: atrizes em peças teatrais, cantamos em festivais, fizemos desfiles de moda, até realejo eu toquei na Concha Acústica!! Que pretensão...

Lembrei-me de algo interessante que não diz respeito a arte mas à criatividade. Acho que inventamos isto que está tão em moda hoje em dia: as prefeituras fecham as ruas para transformá-las em espaços de lazer, nos domingos e feriados. Não chegávamos a fechar rua, mas íamos para a calçada de D. Clara, na esquina de nossa casa que dava para o rio, e fazíamos uma tarde de lazer: levávamos bola, velocípedes, bicicletas e outros jogos e nos divertíamos por conta própria.

Fomos crianças   e adolescentes felizes.
Beijos
Grácia

*** As fotos são meramente ilustrativas  e, se por acaso você tiver o direito sobre elas, favor nos informar para darmos os merecidos créditos.
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5 comentários:

Yolande Caffé disse...

Adorei Grácia, viajei no tempo. Pena que Petrolina esqueceu de nós, nunca fomos citadas em nada por aqui.Mas somos a casa das sete mulheres de rocha. Muito bom mesmo, parabéns!!!!!!

Regina disse...

Que saudade enorme que me deu de minha infância querida que não volta mais... mas como eu queria ser transportada para esse tempo e ser feliz... muito feliz!! Obrigada Grácia por nos lembar desses momentos que foram "ÚNICO".
Beijos

Cristina disse...

Muito bom recordar tantos momentos de alegria e felicidade que vivemos na nossa infância e adolescência.
Além da veia artística que existe em cada um de nós, tivemos o privilégio de ter pais que permitiam e até incentivavam(especialmente mainha)a participação nesses eventos.
Saudades...

Beijos

Grácia disse...

Escrevendo estas lembranças eu também voltei no tempo e senti saudades.Nós mesmos criávamos as nossas brincadeiras e modos de nos divertirmos. Hoje já vem tudo pronto. Bjs

Yara disse...

Quanta saudade da nossa infância e juventude!11
Como aproveitamos e fomos tão felizes!!! Bjs