Lição do Remeiro
Nilo Coêlho
Nas memórias do tempo,
de todas as memórias da infância,
a que me é mais grata é a do meu rio,
o São Francisco,
a transbordar e desbordar as águas barrentas
pra deixar nas vazantes
a terra enriquecida para os ribeirinhos.
A moldura sentimental e telúrica
que não é apenas evocativa
pois jamais disse adeus a minha terra
se completa com a visão das barcas a vela
subindo a correnteza e vencendo a calmaria
com a força dos peitos rijos dos remeiros.
que não é apenas evocativa
pois jamais disse adeus a minha terra
se completa com a visão das barcas a vela
subindo a correnteza e vencendo a calmaria
com a força dos peitos rijos dos remeiros.
São os remeiros dos peitos sangrentos
remeiros sofridos
remeiros sofridos
calejados na adversidade
o ânimo forte e a alma em festa
nas canções que acompanham o impulso dos remos
e nos gritos de desafio à passagem dos vapores.
o ânimo forte e a alma em festa
nas canções que acompanham o impulso dos remos
e nos gritos de desafio à passagem dos vapores.
O menino beiradeiro,
que chega às alturas da direção de um grande Estado e de um povo,
tem a sua frente o mesmo quadro.
que chega às alturas da direção de um grande Estado e de um povo,
tem a sua frente o mesmo quadro.
Remando ou varejando
não importa sangre o peito: saberemos lutar.
não importa sangre o peito: saberemos lutar.
A luta dos remeiros, como a nossa,
é o embate dos que não perderam a fé
dos que têm esperança
dos que firmam os pés molhados nas coxias
de olhos voltados sempre para a frente.
é o embate dos que não perderam a fé
dos que têm esperança
dos que firmam os pés molhados nas coxias
de olhos voltados sempre para a frente.
O peito rijo que se abre em calos
se enrijece na certeza de que a união nos fará fortes
no vislumbre de novos horizontes que juntos buscaremos.
se enrijece na certeza de que a união nos fará fortes
no vislumbre de novos horizontes que juntos buscaremos.
Rio acima contra a correnteza
e a alma cheia de esperança.
◘
3 comentários:
O ministro, nosso conterrâneo,incluiu a Lição do Remeiro no seu discurso de posse, não é verdade?
É muito bonita, e quem é daquela região compreende bem todo sentimento de Nilo Coêlho ao escrevê-la.
Bjs
Exatamente! Fernando finalizou o discurso citando um trecho e, como o poema tem tudo a ver com nossa família, que viveu/vive às margens do rio São Francisco, e é muito bonito, tinha que fazer parte do nosso Blog né?
Bjos
Muito lindo!
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