Esse blog destina-se ao registro de acontecimentos da família Caffé além de coisas do cotidiano, diversão, arte, reflexão, passeios, música e tudo que chamar a nossa atenção.



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sexta-feira, 29 de julho de 2011


Onde andará o meu doutor?
Tatiana Bruscky


Hoje acordei sentindo uma dorzinha, aquela dor sem explicação, e uma palpitação.Resolvi procurar um doutor. 

Fui divagando pelo caminho...Lembrei daquele médico que me atendia vestido de branco e que para mim tinha um pouco de pai, de amigo e de anjo...O Meu Doutor que curava a minha dor, não apenas a do meu corpo mas a da minha alma. Que me transmitia paz e calma!

Chegando à recepção do consultório, fui atendida com uma pergunta:
“Qual o seu plano? 
“Ah, o meu plano é viver mais e feliz! É dar sorrisos, aquecer os que sentem frio e preencher esse vazio que sinto agora!
Mas a resposta teria que ser outra...o meu plano de saúde!
Apresentei o documento do dito cujo já meio suado, tanto quanto o meu bolso, e aguardei...

Quando fui chamada corri apressada. Ia ser atendida pelo Doutor, aquele que cura qualquer tipo de dor.

Entrei e o olhei, me surpreendi. Rosto trancado, triste e cansado... Será que ele estava adoentado?
É, quem sabe, talvez gripado. Não tinha um semblante alegre, provavelmente devido à febre...
Dei um sorriso meio de lado e um bom dia...
Sobre a mesa, à sua frente, um computador, e no seu semblante a sua dor. O que fizeram com o Doutor?

Quando ouvi a sua voz de repente: o que a senhora sente?
Como eu gostaria de saber o que ELE estava sentindo... parecia mais doente do que eu, a paciente...
Eu? Ah! sinto uma dorzinha na barriga e uma palpitação... e esperei a sua reação.
Vai me examinar, escutar a minha voz, auscultar o meu coração...
Para minha surpresa apenas me entregou uma requisição e disse:
“peça autorização desses exames para conseguir a realização”...

Quando li quase morri...Tomografia computatorizada, ressonância magnética e cintilografia !
Ai, meu Deus! Que agonia! Eu só conhecia uma tal de abreugrafia...
Só sabia o que era ressonar (dormir), de magnético eu conhecia um olhar... e cintilar só o das estrelas!

Estaria eu à beira da morte? De ir para o céu? Iria morrer assim ao léu?

Naquele instante timidamente pensei em falar: terá o senhor uma amostra grátis de calor humano para aquecer esse meu frio?
Que fazer com essa sensação de vazio? 

E observe, Doutor, o tal Pai da Medicina, o grego Hipócrates, acreditava que "a arte da medicina estava em observar". Olhe para mim... 

Bem verdade que o juramento dele está ultrapassado! Médico não é sacerdote... tem família e todos os problemas inerentes ao ser humano... mas, por favor, me olhe, ouça a minha história! Preciso que o senhor me escute, ausculte e examine!


Estou sentindo falta de dizer até aquele 33! 
Não me abandone assim de uma vez! 
Procure os sinais da minha doença e cultive a minha esperança!
Alimente a minha mente e o meu coração... Me dê, ao menos, uma explicação!

O senhor não se informou se eu ando descalça... ando sim! Gosto de pisar na areia e seguir em frente deixando as minhas pegadas pelas estradas da vida. Estarei errada? Ou estarei com o verme do amarelão? Existirá umas gotinhas de solução? 

Será que já existe vacina contra o tédio? Ou não terá remédio?

Que falta o senhor me faz, meu antigo Doutor!
Cadê o Sccot, aquele da Emulsão que tinha um gosto horrível mas me deixava forte que nem um Sansão?
E o Elixir? Paregórico e categórico. 
E o chazinho de cidreira, que me deixava a sorrir sem tonteiras? Será que pensei asneiras?

Ah! meu querido e adoentado Doutor! 
Sinto saudades dos seus ouvidos para me escutar, das suas mãos para me examinar, do seu olhar compreensivo e amigo...do seu pensar...

O seu sorriso que aliviava a minha dor...que me dava forças para lutar contra a doença... e que estimulava a minha saúde e a minha crença...Sairei daqui para um ataúde? Preciso viver e ter saúde! Por favor, me ajude!

Oh! meu Deus, cuide do meu médico e de mim, caso contrário chegaremos ao fim...Porque da consulta só restou uma requisição digitada em um computador e o olhar vago e cansado do Doutor!

Precisamos urgente dos nossos médicos amigos, a medicina agoniza... ouço até os seus gemidos...
Por favor, tragam de volta o meu Doutor! Estamos todos doentes e sentindo dor...
E peço, para o ser humano, uma receita de calor, e para o exercício da medicina uma prescrição de amor!


2 comentários:

Grácia disse...

Linda e verdadeira!!!
E muitas vezes só precisamos mesmo desta receita de calor...uma dose apenas de amor.
Triste...

Cristina disse...

É verdade.

Quando a gente encontra um profissional que presta atenção no que a gente fala, escuta o que dizemos e interpreta o que realmente estamos sentindo, no corpo e na alma, tudo fica mais fácil.
Muitas vezes se procura o médico por medo do que se está sentindo...

A autora desse texto é médica!!